24 de set. de 2009

UMA MORADA NAS GRAÇAS DE NOSSA SENHORA

Anjos nem sempre caem do céu, alguns nascem por aqui mesmo, entre nós. Uns se vestem de cinza, ou branco, outros com as cores que vitrines vendem, mas todos os que decidem se assumir anjos se vestem, principalmente, de abraços. Existem muitas moradas por onde eles passam, entre elas a morada dos velhos. Daqueles que olham no horizonte enquanto o tempo passa, que olham o pinheiro altivo e livre, que balança ao sabor do vento, em frente a uma porta de vidro e lhe conta das histórias que ele quase esqueceu. Então, quando alguém chega ele não diz nada, apenas desvia os olhos da árvore, afasta sua cadeira de rodas, abre a porta e sorri.
Nessa morada existem outras cadeiras de rodas, algumas sem elas, outras são simplesmente poltronas com almofadas. Almofadas que agora ajudam a sustentá-los, como suas pernas e braços já os sustentaram em quase suas dez décadas de vida.
O que será que essas almofadas sustentam? Quantos palácios de sonhos moram naquelas mentes que vagam solitárias, absorvidas no nada e sedentas apenas de um abraço? Quantas histórias de lutas se apagaram no anonimato de vidas que sempre se dedicaram a alguém? Alguns a uma família enorme, mas que agora sumiu! Um, a um patrão gentil, a quem a vida inteira serviu? Outro mais, que brilhou em gramados, fazendo e ensinando a fazer gols, em campos não tão verdes e sem salário algum, mas que inspirou jovens sonhadores.
Há mais, há os que nunca ouviram, por isso passaram uma vida sem palavras, mas seus olhos falam conosco. Tem brilho, tem alegria e tem histórias para contar. Outros, ainda, cujos filhos não nasceram, o trabalho e a timidez tomaram seu tempo, seus pais se foram, não houve uma Maria, uma Joana, uma Luiza que pudessem ter tomado nos braços.
Restam lembranças de velhos e os cuidados dos anjos que jamais esquecem que agora é hora de levantar, de tomar banho, de comer, de tomar remédio, de tomar sol, de novo dormir... sem esquecer de olhar no horizonte e ver refletido nele o seu passado de histórias, que bem ou mal foram fabulosas.
Há um Bispo, um Padre e um Médico abnegado que se juntam aos anjos para promover, pelo menos, um pedacinho do céu neste lar onde Nossa senhora das Graças vive, abençoa e abraça cotidianamente a todos e a cada um. Sorri para eles, faz seu dia melhor.
Que o futuro sorria para nós, como sorrimos hoje para eles; e nos abrace como oferecemos nossos abraços a eles e aos que não tem morada, nem anjos, vestidos de cinza ou branco, lembrando que é hora de levantar, hora de comer, hora de tomar o remédio...

Parabéns aos que respeitam e amam seus idosos! (Dia 27/09- Dia Nacional do Idoso)

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Meu Livro: Quem tem Medo de Gatos? E outras estórias (Ed. Vozes)

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Sonhos são como nuvens valsando flocos de algodão

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Palmas, Paraná, Brazil
Quando o coração começa a viajar cedo na vida, vai se espalhando e esparramando um pedaço da gente em cada canto por onde passamos. Acho que comigo foi algo assim. Minha família sempre ficou com a maior parte, talvez, também, a melhor, mas alguns pedacinhos indiscretos foram se perdendo pelos caminhos. Quando comecei a querer recrutá-los de volta, mandei muita correspondência, escolhi a forma poemas, a forma frases, pensamentos, mas nenhuma resposta imediata. Depois, enviei contos, romance... e usei a internet com suas múltiplas doses de endereços. Comecei a perceber que o que deixei para trás não há como recuperar, mas há sim um jeito de reconstruir esse coração, com novos arranjos, novos pedaços, colhidos aqui e acolá, alguns até parecidos com o meu, e penso que posso torná-lo inteiro novamente. Continuo usando as mesmas formas, porém, com novas fórmulas e novos endereços. Estou gostando das respostas que recebo. Meu coração ainda viaja, mas agora tenho roteiro e carteira de motorista! Prof´Eta (Professora e Poeta).

PÉROLA DO UNIVERSO

Uma curva desvia o que era destino,
Uma força, um vento, um siroco menino
Um grão perdido no sideral espaço
Cria a pérola solitária do universo.

Um róseo coração saltita pelos ares
Navega em barco a vela pelos mares
Voa inquieto, solitário burbulhando amor
Enfeitando jardins verdes de colorida flor.

Há um sonho que insiste se mostrar amarelo,
O quero azul, verde ou vermelho, mas sincero
Exibindo a nave do cósmico voante que o leva
E me busca e em dreams suaves nos enleva.

Mais um risco de um vento no universo... e um grão se fará pérola...

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