Você tem uma folha em branco, uma caneta ou lápis, ou ainda, você tem uma tela em branco conectada a uma mesinha cheia de teclas pintadas com o alfabeto e outros sinais e então, zás! É só teclar e tudo vai sair direitinho, um belo texto preencherá o branco, o vazio...
Poderia ser, se estivesse copiando poemas de Drummond, de Adélia Woelner, crônicas de Ignácio Loyola, contos de Machado de Assis, as histórias de meu amigo Filipak, do Joaquim... Mas não é não! É um texto teu que terá que preencher aquele espaço. Poderá ser uma poesia, a letra de uma melodia, quiçá um conto, uma crônica! Mas aí é que o arrepio começa a tomar conta. Por onde começo? Qual a palavra ideal? Sobre o que, mesmo, eu quero falar?
O alfabeto dança uma dança macabra e fica esguio como um bagre na água, corro atrás dele, sofro para o alcançar, quando o alcanço pego uma letrinha aqui, outra acolá me escorrega e não sei o que fazer com elas. Às vezes quero escrever amor, mas não tenho o “m”, quem se coloca fácil entre meus dedos teclando é o “d” e vai escorregando pelo branco da página/tela e vai se escrevendo sozinho, quando tomo conta de mim o que vejo é a dor.
Sempre pensei que eu mandava em minhas histórias, mas descobri que as histórias são donas de mim, elas se mostram ou se escondem à sua maneira e me usam quando bem querem. Neste largo tempo de meus escrevivendos descobri, pelo menos, que posso acompanhá-las e orientá-las para caminharem um pouco nos meus caminhos. Fiz amizade com elas, levei-as à minha sala de estar, viajaram comigo, de ônibus, de avião, até de trem. E quando vi tinha as levado para minha cama! Dormimos juntas e elas me sussurram suas histórias, que não me são mais totalmente estranhas. Quando elas tomam as rédeas eu até consigo vislumbrar um pouco o seu “ponto de chegada”. Então, as surpresas não me assustam mais, porque entendi que escrever a vida pode ser um mergulhar na história, minha e na alheia, sentindo as alegrias e dores, colorindo-as com as tintas que acumulei durante a caminhada.
Lembro que, quando jovem, eu tinha toda uma caixa de lápis coloridos, vinte e quatro cores, ou eram mais?! Hoje costumo carregar seis cores básicas, com as quais pinto e brinco com meu alfabeto. Onde foi mesmo que deixei os outros dezoito? É... tenho que forçar meu reencontro com essas cores também!
Não existe um outro caminho para o bem escrever que não seja o da leitura... o mundo e os livros nos alimentam e nos deixam “prenhe” de revelações.
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Resolvi ler mais um pouco e encontrei neste texto algo parecido com o que chamei de "audisservação". No meu caso trata-se de uma relação sonora com o mundo que me circunda. Existe uma analogia entre compor um conto(um texto) e compor uma canção, o que poderíamos chamar de texto musical. Para mim tudo é música...um dia desses estava sentado aqui na sala e ouvi um baita buzinasso lá fora..o incômodo inicial transformou-se em deleite estético na medida em que eu começava a identificar relações harmônicas entre as buzinas.
ResponderExcluirabraços
Gostei do "audisservação" sabe que eu não realizei, ainda, uma audisservação, mas fiquei tentada a fazer isso, ouvir os sons que nos rodeiam deve ser uma experiência, no mínimo, curiosa, já que convivemos com eles mãs não os ouvimos "de verdade".
ResponderExcluirObrigada pelo comentário.
Bjus