23 de set. de 2009

Escreviver

Escrever e viver, palavras que se juntaram e fizeram morada em minh´alma. De vez em quando me deparo com escreviver como um “tomar água, fôlego”, respirar ar puro, ou até um desintoxicamento de mim mesmo. Mas nunca escrevo com ela. Por quê? Sei lá, quem sabe porque penso que escrever para viver possa ser um conceito fraco para o significado que se amalgamou em mim. Você pode até pensar que é fácil. Escrever é fácil??!!!
Você tem uma folha em branco, uma caneta ou lápis, ou ainda, você tem uma tela em branco conectada a uma mesinha cheia de teclas pintadas com o alfabeto e outros sinais e então, zás! É só teclar e tudo vai sair direitinho, um belo texto preencherá o branco, o vazio...
Poderia ser, se estivesse copiando poemas de Drummond, de Adélia Woelner, crônicas de Ignácio Loyola, contos de Machado de Assis, as histórias de meu amigo Filipak, do Joaquim... Mas não é não! É um texto teu que terá que preencher aquele espaço. Poderá ser uma poesia, a letra de uma melodia, quiçá um conto, uma crônica! Mas aí é que o arrepio começa a tomar conta. Por onde começo? Qual a palavra ideal? Sobre o que, mesmo, eu quero falar?
O alfabeto dança uma dança macabra e fica esguio como um bagre na água, corro atrás dele, sofro para o alcançar, quando o alcanço pego uma letrinha aqui, outra acolá me escorrega e não sei o que fazer com elas. Às vezes quero escrever amor, mas não tenho o “m”, quem se coloca fácil entre meus dedos teclando é o “d” e vai escorregando pelo branco da página/tela e vai se escrevendo sozinho, quando tomo conta de mim o que vejo é a dor.
Sempre pensei que eu mandava em minhas histórias, mas descobri que as histórias são donas de mim, elas se mostram ou se escondem à sua maneira e me usam quando bem querem. Neste largo tempo de meus escrevivendos descobri, pelo menos, que posso acompanhá-las e orientá-las para caminharem um pouco nos meus caminhos. Fiz amizade com elas, levei-as à minha sala de estar, viajaram comigo, de ônibus, de avião, até de trem. E quando vi tinha as levado para minha cama! Dormimos juntas e elas me sussurram suas histórias, que não me são mais totalmente estranhas. Quando elas tomam as rédeas eu até consigo vislumbrar um pouco o seu “ponto de chegada”. Então, as surpresas não me assustam mais, porque entendi que escrever a vida pode ser um mergulhar na história, minha e na alheia, sentindo as alegrias e dores, colorindo-as com as tintas que acumulei durante a caminhada.
Lembro que, quando jovem, eu tinha toda uma caixa de lápis coloridos, vinte e quatro cores, ou eram mais?! Hoje costumo carregar seis cores básicas, com as quais pinto e brinco com meu alfabeto. Onde foi mesmo que deixei os outros dezoito? É... tenho que forçar meu reencontro com essas cores também!

Não existe um outro caminho para o bem escrever que não seja o da leitura... o mundo e os livros nos alimentam e nos deixam “prenhe” de revelações.

Creative Commons License
Escreviver by Lucy Bortolini Nazaro is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

2 comentários:

  1. Resolvi ler mais um pouco e encontrei neste texto algo parecido com o que chamei de "audisservação". No meu caso trata-se de uma relação sonora com o mundo que me circunda. Existe uma analogia entre compor um conto(um texto) e compor uma canção, o que poderíamos chamar de texto musical. Para mim tudo é música...um dia desses estava sentado aqui na sala e ouvi um baita buzinasso lá fora..o incômodo inicial transformou-se em deleite estético na medida em que eu começava a identificar relações harmônicas entre as buzinas.
    abraços

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  2. Gostei do "audisservação" sabe que eu não realizei, ainda, uma audisservação, mas fiquei tentada a fazer isso, ouvir os sons que nos rodeiam deve ser uma experiência, no mínimo, curiosa, já que convivemos com eles mãs não os ouvimos "de verdade".
    Obrigada pelo comentário.
    Bjus

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Meu Livro: Quem tem Medo de Gatos? E outras estórias (Ed. Vozes)

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Sonhos são como nuvens valsando flocos de algodão

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Palmas, Paraná, Brazil
Quando o coração começa a viajar cedo na vida, vai se espalhando e esparramando um pedaço da gente em cada canto por onde passamos. Acho que comigo foi algo assim. Minha família sempre ficou com a maior parte, talvez, também, a melhor, mas alguns pedacinhos indiscretos foram se perdendo pelos caminhos. Quando comecei a querer recrutá-los de volta, mandei muita correspondência, escolhi a forma poemas, a forma frases, pensamentos, mas nenhuma resposta imediata. Depois, enviei contos, romance... e usei a internet com suas múltiplas doses de endereços. Comecei a perceber que o que deixei para trás não há como recuperar, mas há sim um jeito de reconstruir esse coração, com novos arranjos, novos pedaços, colhidos aqui e acolá, alguns até parecidos com o meu, e penso que posso torná-lo inteiro novamente. Continuo usando as mesmas formas, porém, com novas fórmulas e novos endereços. Estou gostando das respostas que recebo. Meu coração ainda viaja, mas agora tenho roteiro e carteira de motorista! Prof´Eta (Professora e Poeta).

PÉROLA DO UNIVERSO

Uma curva desvia o que era destino,
Uma força, um vento, um siroco menino
Um grão perdido no sideral espaço
Cria a pérola solitária do universo.

Um róseo coração saltita pelos ares
Navega em barco a vela pelos mares
Voa inquieto, solitário burbulhando amor
Enfeitando jardins verdes de colorida flor.

Há um sonho que insiste se mostrar amarelo,
O quero azul, verde ou vermelho, mas sincero
Exibindo a nave do cósmico voante que o leva
E me busca e em dreams suaves nos enleva.

Mais um risco de um vento no universo... e um grão se fará pérola...

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