"Escrevivendo" Um espaço para escrever poesias, textos em prosa, deixar mensagens, divulgar "escrevivendos da vida" ...
26 de out. de 2008
100 Anos sem Machado de Assis - Por que “Bruxo do Cosme velho?”
DE ONDE NASCEU O EPÍTETO “BRUXO DO COSME VELHO?”
Tudo começou quando Drummond escreveu o poema “A Um Bruxo com Amor” (em A Vida Passada a Limpo). Veja:
A UM BRUXO, COM AMOR.
Carlos Drummond de Andrade
Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-se; e me recebes
na sala trastejada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.
Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.
Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os mistérios
e deixá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
conheces a fundo
a geologia moral do Lobo Nenês
e uma espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.
E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosdade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
Ou, grande lascivo, do nada?
O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurrar alguma coisa
que não se entende logo
e parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
é Flora,
cujos olhos dotados de um mover particular
entre mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz, úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
E delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de manhã nova...
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
Vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio parta existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos, além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?
Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que revolves em mim tantos enigmas.
Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eterna exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta, sais pela janela, dissolves-te no ar.
(Do livro Reunião, de Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1978)
Tudo começou quando Drummond escreveu o poema “A Um Bruxo com Amor” (em A Vida Passada a Limpo). Veja:
A UM BRUXO, COM AMOR.
Carlos Drummond de Andrade
Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-se; e me recebes
na sala trastejada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.
Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.
Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os mistérios
e deixá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
conheces a fundo
a geologia moral do Lobo Nenês
e uma espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.
E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosdade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
Ou, grande lascivo, do nada?
O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurrar alguma coisa
que não se entende logo
e parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
é Flora,
cujos olhos dotados de um mover particular
entre mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz, úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
E delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de manhã nova...
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
Vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio parta existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos, além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?
Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que revolves em mim tantos enigmas.
Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eterna exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta, sais pela janela, dissolves-te no ar.
(Do livro Reunião, de Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1978)
4 de out. de 2008
NO SILÊNCIO DO AMANHÃ
Uma palavra, uma frase muda
tudo no cotidiano de um dia insólito
trêmulo sorriso conversa dentro de mim
a certeza de um instante é meu
um suspiro vagueia na escuridão
buscando uma lua cúmplice
de encontros feitos de sonhos
em nuvens azuis de lembranças
e o sol tem liberdade para surgir
porque o dia se adoça na saudade
e a chuva pode vir correndo
porque escreve em janelas fechadas
o amor está no ar do sol e da água que cai
o segredo está no coração e na alma
prenhe de ilusões nas horas que passam
silentes denunciando um novo ocaso.
tudo no cotidiano de um dia insólito
trêmulo sorriso conversa dentro de mim
a certeza de um instante é meu
um suspiro vagueia na escuridão
buscando uma lua cúmplice
de encontros feitos de sonhos
em nuvens azuis de lembranças
e o sol tem liberdade para surgir
porque o dia se adoça na saudade
e a chuva pode vir correndo
porque escreve em janelas fechadas
o amor está no ar do sol e da água que cai
o segredo está no coração e na alma
prenhe de ilusões nas horas que passam
silentes denunciando um novo ocaso.
Pensando a vida
Existem dias em que nos sentimos a última das pessoas neste mundo। Parece que somos a trave no olho alheio, a pedra no caminho, a ponte quebrada sobre um rio revolto, o barranco despencado pela enxurrada, a árvore derrubada pelo tufão, ou então apenas um espectro, fantasma invisível na multidão. Tudo o que queríamos é que nosso corpo se evaporasse, que o sumiço completo fosse nosso grande aliado para sobrevoarmos, como ar apenas e assim poder observar nosso espaço e compreender, quem sabe, os acontecimentos que nos envolvem tão completamente, nos distanciando de nossos desejos, quebrando nossos sonhos e nos fazendo viver uma realidade diferente da que planejamos. Mas não é assim que acontece. Somos providos de alma, de pensamento, de sentimentos que nos confundem, somos providos de um físico que nos limita, enquanto não o conhecemos completamente. Sofremos com os contrastes que perambulam em nosso cotidiano, com o que parece ser e o que realmente é. Com o que premeditamos, mas não conseguimos efetivar. Estamos em uma armadilha fabricada por nós mesmos, num labirinto que nos obriga a andar, andar, infinitamente andar, enquanto providos de fôlego, até que consigamos descobrir a saída ou nos entregar completamente a essa rotina de sempre recomeçar em uma nova porta de entrada, de outro e mais outro labirinto, até que aprendamos a desvendar seus mistérios, com ajuda do fio de Ariadne, que seja, mas aceitando, enfim, a ajuda providencial.
Nesses dias me pergunto insistentemente, “por que existe uma teimosia, que parece inata em mim, em trilhar labirintos desconhecidos? Em criar armadilhas para me enredar, sem a possibilidade de defesa?”. Afinal, tudo me diz que sou eu a única responsável por mim. Eu faço e refaço meu destino, sou portadora da chave dos enigmas, da força do Cósmico, conhecedora dos segredos da vida e capaz de criar futuros. Então, por quê? Por que me debruço aos pés de Ares, inimigo da serena luz solar e da calmaria?
Nesses dias me pergunto insistentemente, “por que existe uma teimosia, que parece inata em mim, em trilhar labirintos desconhecidos? Em criar armadilhas para me enredar, sem a possibilidade de defesa?”. Afinal, tudo me diz que sou eu a única responsável por mim. Eu faço e refaço meu destino, sou portadora da chave dos enigmas, da força do Cósmico, conhecedora dos segredos da vida e capaz de criar futuros. Então, por quê? Por que me debruço aos pés de Ares, inimigo da serena luz solar e da calmaria?
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- Quando o coração começa a viajar cedo na vida, vai se espalhando e esparramando um pedaço da gente em cada canto por onde passamos. Acho que comigo foi algo assim. Minha família sempre ficou com a maior parte, talvez, também, a melhor, mas alguns pedacinhos indiscretos foram se perdendo pelos caminhos. Quando comecei a querer recrutá-los de volta, mandei muita correspondência, escolhi a forma poemas, a forma frases, pensamentos, mas nenhuma resposta imediata. Depois, enviei contos, romance... e usei a internet com suas múltiplas doses de endereços. Comecei a perceber que o que deixei para trás não há como recuperar, mas há sim um jeito de reconstruir esse coração, com novos arranjos, novos pedaços, colhidos aqui e acolá, alguns até parecidos com o meu, e penso que posso torná-lo inteiro novamente. Continuo usando as mesmas formas, porém, com novas fórmulas e novos endereços. Estou gostando das respostas que recebo. Meu coração ainda viaja, mas agora tenho roteiro e carteira de motorista! Prof´Eta (Professora e Poeta).
PÉROLA DO UNIVERSO
Uma curva desvia o que era destino,
Uma força, um vento, um siroco menino
Um grão perdido no sideral espaço
Cria a pérola solitária do universo.
Um róseo coração saltita pelos ares
Navega em barco a vela pelos mares
Voa inquieto, solitário burbulhando amor
Enfeitando jardins verdes de colorida flor.
Há um sonho que insiste se mostrar amarelo,
O quero azul, verde ou vermelho, mas sincero
Exibindo a nave do cósmico voante que o leva
E me busca e em dreams suaves nos enleva.
Mais um risco de um vento no universo... e um grão se fará pérola...
Uma força, um vento, um siroco menino
Um grão perdido no sideral espaço
Cria a pérola solitária do universo.
Um róseo coração saltita pelos ares
Navega em barco a vela pelos mares
Voa inquieto, solitário burbulhando amor
Enfeitando jardins verdes de colorida flor.
Há um sonho que insiste se mostrar amarelo,
O quero azul, verde ou vermelho, mas sincero
Exibindo a nave do cósmico voante que o leva
E me busca e em dreams suaves nos enleva.
Mais um risco de um vento no universo... e um grão se fará pérola...
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